Prezados amigos leitores da Revista Pássaros Exóticos,
estamos juntos em mais uma edição, desta vez para falarmos de uma espécie de Columbiforme
exótico: a rolinha diamante (Geopelia
cuneata).
Particularmente, esta é a espécie mais recente que crio,
isto é, mais ou menos uns quatro anos. No início da minha vida criando aves,
nunca havia me interessado por pombos em geral, apesar de achar as
pombas-de-frutas lindas, mas depois de formado em biologia e iniciado meu
trabalho com aves silvestres de vida livre, estudando seus comportamentos e
ecologia em geral, passei me interessar muito pelas aves da ordem
Columbiformes, que representa todas as espécies de pombos e rolinhas que vivem
atualmente no globo. Foi quando surgiu a oportunidade de adquirir dois casais
de rolinhas diamantes.
Iniciei minha pesquisa para aprender mais sobre esta espécie
e como eu esperava, encontrei pouquíssimas informações a respeito de sua
criação em cativeiro. Portanto, decidi reunir neste artigo as informações que
li em livros e homepages. Espero que
gostem!
A espécie
A rolinha diamante ou pombinha diamante é uma das menores
espécies de columbídeos viventes na Terra, alcançando de 19 a 21 centímetros de
comprimento. Sua distribuição geográfica limita-se à Austrália,
onde divide o habitat com outras espécies conhecidas dos criadores, como os
periquitos australianos, diamantes mandarins e calopsitas.
A rolinha diamante divide o gênero Geopelia com mais quatro
espécies, sendo uma conhecida pelos criadores brasileiros, a rolinha zebrinha (Geopelia striata). Todas as espécies de
Geopelia possuem o padrão de desenho barrado em suas asas, com exceção da
rolinha diamante, onde o padrão de desenho são pintas brancas sobe as asas
melânicas, dando a sensação de que foram salpicados pequenos diamantes sobre as
asas.
Esta é a origem do nome popular da espécie diamond dove (rolinha diamante em
inglês, língua oficial da Austrália). Já a origem de seu nome científico, vem
de terra = geo e cuneata = cor de chão, terra, isto é, uma ave que costuma
ficar muito tempo andando pelo chão, atrás de insetos e principalmente, grãos.
Portanto, este grupo de rolinhas é chamado em inglês de ground doves, isto é, rolinhas de chão.
A espécie não se encontra ameaçada em seu país de origem,
tendo seu status de conservação como
pouco preocupante. Somente no Estado de Victória, seu status é considerado quase ameaçada. Aliado ao fato de ser criada há
vários anos em cativeiro em diversos países do globo, a rolinha diamante é
considerada uma espécie doméstica, como cães, gatos, canários do reino e
periquitos australianos, estando no anexo D da instrução normativa nº 18/2011
do IBAMA, para criação de aves exóticas.
Alimentação
Como atualmente todas as minhas
aves estão em uma grande colônia (todas as espécies), eu ofereço mistura típica
para exóticos, canários e periquitos, além de uma boa farinhada e ração
extrusada. Reparo que as rolinhas também vão se alimentar das espigas de milho,
jilós e maçãs que ofereço no viveiro.
Como as rolinhas não quebram as
sementes como as demais espécies granívoras (as sementes são engolidas direto),
deve-se tomar cuidado com o alpiste, pois o mesmo é pontiagudo. Como no meu
viveiro existe uma gama de variedades de sementes e outras opções alimentícias,
reparo que a rolinhas não vão ao alpiste. Nunca tive problemas com relação a
isto.
Não se esquecer de oferecer à
vontade areia lavada e a grit para que as mesmas possam ciscar e ingerir
minerais que auxiliarão em sua digestão, além de servirem de fonte de cálcio.
No meu viveiro é extremamente comum encontrar as rolinhas pelo chão,
forrageando e ciscando. Como moro em uma área rural, possíveis insetos, como
formigas, também são vítimas das rolinhas.
Reprodução
Ave de temperamento dócil com
demais espécies no caso de um viveiro coletivo, podendo-se apresentar comportamento
agnóstico em relação a outros indivíduos da mesma espécie, principalmente entre
os machos. Quando eu deixei os meus dois casais em uma voadeira, presenciei
inúmeras brigas entre os machos, ao ponto de despenarem a nunca um do outro. Já
no viveiro, talvez pelo amplo espaço, as brigas ocorrem, porém de maneira mais
leve, pois oferece ao perdedor espaço suficiente para fuga.
O dimorfismo sexual fica por
conta de duas características: a primeira esta na coloração, onde as fêmeas
possuem uma maior carga de feomelanina em suas asas, dando um tom mais
amarronzado a elas, ao contrário dos machos que possuem as asas mais
acinzentadas. A segunda característica está na espessura dos anéis vermelhos ou
alaranjados ao redor dos olhos, onde os anéis dos machos são mais largos (2 a 3
mm) do que das fêmeas (1 mm).
Recomenda-se reproduzir animais
com mais de um ano de idade, mesmo as rolinhas diamantes estarem aptas à
reprodução desde muito cedo, como periquitos australianos e diamantes
mandarins. A precocidade destas espécies se dá em função do ambiente natural na
qual elas vivem, onde as condições são bem mais severas (ambientes áridos e semi-áridos)
e como os momentos propícios para se reproduzir (fartura de alimento em função
de fortes chuvas) podem aparecer a qualquer momento, a chance de deixar
descendentes deve ser aproveitada ao máximo, justificando a precocidade.
Os pombos tem como resultado de
sua seleção sexual, displays interessantes de cantos e danças. Quem é que nunca
reparou os pombos domésticos (Columba
livia) cortejando fêmeas ao se andar pelas ruas. No caso das rolinhas
diamantes, não poderia ser diferente, onde o macho corteja a fêmea com um
ritual que abre e fecha as penas da cauda (rectrizes), lembrando um pavãozinho,
sempre acompanhado de um canto típico (coo
hoo, coo hoo, ...).
Os columbídeos em geral põem de
um a dois ovos bem branquinhos, sendo no caso da rolinha diamante, dois ovos
por postura que no 13º ao 15º dia de choco, eclodirão. Os filhotes serão
alimentados por ambos os pais (através do famoso leite de pomba) e por volta do
5º ao 7º dia de vida, anilhados com anéis de 3,5mm, conforme a Federação
Ornitológica do Brasil (FOB) recomenda para participação em concursos.
Um fato interessante que me
chamou a atenção na criação desta ave foi a precocidade que os filhotes deixam
os ninhos, por volta do 10º ao 12º dia de vida! Lembro-me que fiquei
atormentado com a saída dos filhotes tão cedo dos ninhos, o que me fazia devolvê-los
constantemente. Até que resolvi deixar a mãe natureza agir e os filhotes se
viravam bem pelo chão do viveiro, onde os pais iam alimentá-los por mais uma
semana aproximadamente.
A reprodução em cativeiro pode
ser conseguida em viveirinhos de 90 cm, onde se mantém apenas um casal ou em
gaiolas de criação com 70 cm de comprimento. Os ninhos utilizados são os de
taça, os mesmos que os canaricultores utilizam. Particularmente, no meu antigo
criadouro (quarto de empregada em um apartamento) eu coloquei cada casal em uma
gaiola de trigamia com quase 80 cm de comprimento, mas de um casal só vinha
ovos brancos (prateado x cinza) e do outro (canela prateado x canela) todos os
filhotes morriam nos primeiros dias. Tal situação me frustrava com a espécie.
Só quando me mudei para uma casa,
onde construir um enorme viveiro para uma colônia mista (oito metros de
comprimento), que o único casal que acabou ficando comigo (o que só dava ovos
brancos) reproduziu, gerando inúmeros descendentes.
Hoje na colônia tenho uns cinco
casais (entre cinzas, prateados e canelas), onde os únicos problemas que vejo
neste sistema são: falta de controle genético (o que particularmente odeio) e
fêmeas que resolvem por ovos em ninho de outras, gerando uma ninhada de três a
quatro filhotes o que acaba resultando na morte do um ou dois ninhegos, tendo
em vista que a evolução atuou nesta espécie para cuidar de apenas dois
filhotes. Também desconfio que estas fêmeas que dividem ninho foram acasaladas
por um mesmo macho, sendo ele o centralizador de ninhos.
Mas estou planejando para 2015
separar no novo criadouro alguns casais em gaiolas para um controle genético
maior e testar a hereditariedade das mutações.
Mutações
A cor padrão ou selvagem é a
cinza (chamada de blue – azul - em
países de língua inglesa), onde o animal é cinza, como uma determinada carga de
feomelanina sobre asas salpicadas de branco. As penas longas das asas (rêmiges
primárias) são feomelânicas.
Como são criadas em cativeiro
desde o século XIX, a rolinha diamante já apresenta mutações cromáticas, como prata,
canela, arlequim dentre outras, mas na busca e pesquisa por estas mutações percebe-se
que há pouca informação, sendo encontradas nomenclatura somente nas homepages
da International Dove Society (IDS) e
na American Dove Association (ADA),
onde segundo a primeira, existe somente seis mutações na rolinha diamante,
sendo as demais cores combinações das mesmas, conforme a tabela a seguir:
Nº
|
Cor
|
Mutação/Combinação
|
01
|
Blue
(Azul)
|
Cor selvagem
|
02
|
Blue White Rump/Tail
(Azul Cauda Branca)
|
Combinação Blue + white rump/tail
|
03
|
Brilliant
(Brilhante)
|
Mutação
|
04
|
Brilliant White Rump/Tail
(Brilhante Cauda Branca)
|
Combinação Brilliant + white rump/tail
|
05
|
Cinnamon
(Canela)
|
Mutação
|
06
|
Cinnamon White Rump/Tail
(Canela Cauda Branca)
|
Combinação Cinnamon + white rump/tail
|
07
|
Ocher
(Ocre)
|
Combinação Cinnamon + yellow
|
08
|
Peach
(Pêssego)
|
Combinação Silver + yellow
|
09
|
Pied
(Arlequim)
|
Mutação
|
10
|
Red
(Vermelho)
|
Seleção dos canelas
|
11
|
Silver
(Prata)
|
Mutação
|
12
|
Silver White Rump/Tail
(Prata Cauda Branca)
|
Combinação Silver + white rump/tail
|
13
|
Snow White
(Branco Neve)
|
Combinação Silver + yellow + white rump/tail
|
14
|
Ultimate Red
(Último Vermelho)
|
Seleção dos canelas
|
15
|
Yellow
(Amarelo)
|
Mutação
|
16
|
Yellow White
Rump/Tail
(Amarelo Cauda Branca)
|
Combinação Yellow + white Rump/tail
|
Sobre a genética das mutações, a IDS informa que todas
são autossômicas recessivas, com exceção da cauda branca, que trata-se de
dominância parcial, onde indivíduos heterozigotos (“port. de normais”) teriam
apenas as penas do uropígio brancas (white
rump), já os indivíduos homozigotos para a mutação, teriam uropígio e cauda
branca (white tail). Segue o mesmo
raciocínio para o fator escuro na cores das penas dos Psittacidae. Uma outra
curiosidade sobre a mutação cauda branca, é que além da perda melânica da cauda
e uropígio, também dilui a intensidade melânica das penas e afeta as pintas das
asas, aumentando-as de tamanho ao ponto de alguns casos formarem barras ou
estrias.
Em termos de concurso no Brasil, nós criadores devemos
respeitar a nomenclatura informada no Anuário FOB 2015, a seguir:
SUBGRUPO
EX08.01 – POMBA DIAMANTE (Geopelia
cuneata)
EX080101 – CINZA
|
EX080108 – CAUDA BRANCA LINHA CINZA
|
EX080102 – CANELA
|
EX080109 – CAUDA BRANCA LINHA CANELA
|
EX080103 – PRATEADA
|
EX080110 – ARLEQUIM LINHA CINZA
|
EX080104 – PRATEADA CANELA
|
EX080111 – ARLEQUIM LINHA CANELA
|
EX080105 – PASTEL CINZA
|
EX080112 – BRANCA
|
EX080106 – PASTEL CANELA
|
EX080113 – OUTRAS MUTAÇÕES
|
EX080107 – ISABEL
|
|
Considerações finais
A rolinha diamante é uma ave
fascinante pela sua coloração discreta, mas bela e por seu comportamento
interessante de se observar, principalmente durante o cortejo do macho pela
fêmea. Dá-se muito bem com outras espécies de aves e o seu bater de asas gera
um som interessante. No meu viveiro, só pelo som sei quando é uma rolinha
diamante voando perto de mim.
É uma espécie de boa longevidade
em cativeiro, onde a literatura diz que chega aos 15 ou 25 anos de vida cativa.
Já em vida livre não passa dos cinco anos de vida, em função do ambiente árido
em que vive e dos possíveis predadores. Sinceramente, vou esperar aguarda aqui
no meu criadouro ocorrer esta longevidade toda.
Infelizmente, não foi uma espécie
muito presente nos últimos dois campeonatos brasileiros, sendo classificadas
aves em apenas cinco classes em 2013 e quatro em 2014, onde as únicas que apareceram
em ambos os anos foram as cores cinza, cauda branca cinza e cauda branca
prateada. É uma pena, pois se tratando de uma espécie considerada doméstica
pelos órgãos ambientais, sua criação poderia ser mais difundida em termos de
criação voltada para concursos. Digo concursos, pois a espécie deve ser criada
em diversos criadores amadores, melhor dizendo, fora do padrão FOB, pois a
mesma é vista com relativa facilidade para venda em feiras livres e em alguns
petshops.
Lamento não ser tão popular em
concursos e creio que o motivo seja, segundo minha experiência nestes poucos
anos e no que pude observar em fotos e vídeos de alguns criadores brasileiros, a
criação em colônia ser muito utilizada, inviabilização a seleção e fixação das
mutações.
Deve ser por isto que o número de
classes caiu do anuário 2014 para o anuário 2015, já de acordo com o novo
manual de julgamento de exóticos. Das 20 classes que tínhamos passamos para 13,
com a otimização das combinações com a mutação cauda branca em apenas duas
classes (linha cinza e linha canela). Se esta nova nomenclatura estive valendo
nos últimos dois campeonatos, resultaria em uma classe a menos nas presentes
exposições. O motivo de tal redução, penso eu, deva ser a preferência dos
criadores pelas caudas brancas, reduzindo o interesse pelas demais. Chego a
esta conclusão pois as caudas brancas são as mais vistas nos resultados dos
últimos concursos.
E por falar em mudanças na
nomenclatura, ao ler o anuário FOB de 2004, tínhamos apenas 10 classes para a
rolinha diamante, onde apesar de termos aumentado a nomenclatura inserindo com
as cores caudas brancas, arlequins e brancos, perdemos a cor brilhante (tanto
na linha cinza quanto canela), que figurou entre as aves classificadas nos
brasileiros de 2003, 2004 e 2005, por exemplo.
Bem, não me alongando muito, fico
por aqui, mas abro o espaço para você amigo criador, que cria e tem
conhecimento adquirido com esta magnífica espécie, que entre em contato comigo
ou com a redação da revista para agregarmos ou reavaliarmos informações aqui
expostas.
Um abraço e até a
próxima!!!