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Criadouro de Aves Domésticas Ornamentais

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1 de abr. de 2015

ARTIGO: O uso da genética na criação de aves

Artigo publicado na Revista Pássaros Exóticos, em 2014.

Olá amigo criador e apaixonado pela criação de aves! Meu nome é Rodrigo Guerra, sou biólogo responsável pelo Núcleo de Estudos Ornitológicos (NEO) e proprietário do criadouro RGC – Pássaros. Fui convidado pelo  André Ismerim para participar do 1º Ciclo de Palestras realizado pela ACPERJ&BR como palestrante, sendo me dado o tema genética, o qual aceitei prontamente e fiquei muito honrado pelo convite.

Na criação animal o uso da genética é importante e não seria diferente na criação de aves. E na avicultura ornamental, o uso da genética recai sobre a seleção das cores e suas respectivas mutações. Portanto, para um melhor entendimento de como usar a genética precisamos entender como se formam as cores das penas das aves.

As cores nas aves estão em suas penas e partes córneas, onde a enorme variação das mesmas é decorrente de processos bioquímicos, envolvendo pigmentos e/ou processos físicos, envolvendo a estrutura das penas. As cores bioquímicas são resultantes de dois grupos de pigmentos: carotenóides e melaninas.

Os carotenóides são os pigmentos oriundos da dieta das aves. Nos Passeriformes são os lipocromos e nos Psittaciformes são as psitacinas, por exemplo. Suas cores variam entre amarelo, laranja, vermelho e rosa.

As melaninas são produtos do organismo do próprio animal, que podem ser divididas em duas: eumelaninas (que podem ser negras ou marrons) e pheomelaninas (marrons). A eumelanina pode ser manifestar nas regiões mais centrais das penas ou na periferia das mesmas. Já as pheomelaninas se depositam sempre na periferia das penas.

Quando as mesmas são depositadas nas bordas, enxergaremos as cores puramente negras ou marrons, como as estrias dos canários e as ondulações dos periquitos australianos. Agora quando estão na parte mais interna, junto dos carotenóides, dá-se o efeito que chamamos na canaricultura de envoltura.

Nossos olhos só enxergam as cores dos espectros de luz que os objetos refletem, redirecionando-os às nossas retinas. Portanto, quando as melaninas periféricas recebem os espectros de luz, vão refletir a cor marrom e no caso do negro, absorveram todas as cores, restando à ausência de cor, isto é, negro.

Agora quando a melanina está depositada junto aos pigmentos carotenóides, ocorre a reflexão da cor do lipocromo ou psitacina e a cor azul nas melaninas. Tal reflexão azul é denominada de efeito ou azul de Tyndall (o mesmo que deixa o céu azul). Logo, uma ave verde nada mais é do que a reflexão do pigmento amarelo junto com a cor azul da reflexão/refração ocorrida nos grãos de depósitos de melaninas.

Portanto, caso um periquito verde por ventura perder de suas penas todo o pigmento amarelo, ele ficaria azul (FIGURA 01). Mas caso fosse retirado do verde toda presença da melanina negra, o mesmo tornar-se-ia amarelo. Tais exemplos nada mais são do que a mutação azul e a mutação INO (no caso lutino) (FICURA 02).

FIGURA 01: Periquitos Australianos Verde Claro (melanina negra mais psitacina amarela) e Azul Celeste (Somente a melanina negra). Repare que a face do primeiro é amarela e do segundo branca (sem psitacina). Fonte: http://flickrhivemind.net/Tags/budgies,cage/Recent


FIGURA 02: Periquito Australiano Lutino (ausência de melanina negra e presença da psitacina amarela). Fonte: http://www.naturepicturesource.com/gallery/250-120-Budgerigar.html

FIGURA EXTRA: Periquitos Australianos Albino (ausência de melanina negra e da psitacina amarela) e Verde Claro (melanina negra mais psitacina amarela). Fonte: http://www.araratasa.org.au/

Mas, o que é mutação? É uma alteração súbita e hereditária na estrutura genética. Portanto, se uma cor diferente não é repassada aos descendentes de maneira nenhuma, tal cor não é uma mutação, podendo ser até mesmo uma alteração metabólica em função de um problema de saúde.

Mas nem toda cor nova é uma mutação, podendo haver recombinação de mutações, como por exemplo, o canário isabelino (FIGURA 03) oriundo do crossing-over envolvendo as mutações ágata e canela e no caso dos periquitos australianos rendados, envolvendo o mesmo crossing-over nas mutações asa canela e INO.


FIGURA 03: Canário de cor Isabelino Prateado (crossing-over entre a mutação ágata e canela).
Fonte: FOB

Agora, vamos à genética propriamente dita, onde em nossa palestra, visando uma melhor didática, foi escolhida a espécie periquito australiano (Melopsittacus undulatus) para exemplificação, mas a idéia percorre qualquer espécie criada em cativeiro.

Praticamente usamos em criação as Leis de Mendel, onde a mesma foi exemplificada utilizando acasalamentos virtuais entre as cores do periquito. O primeiro caso foi a 1ª Lei de Mendel (Monohibridismo), com casos de dominância completa, co-dominância e sexo-ligado.

Nos casos com dominância completa, o gene dominante dominará o recessivo no processo de exteriorização da mutação, possuindo o animal heterozigoto (dominante port. do recessivo) a mesma aparência do dominante homozigoto (dominante duplo fator). Tal caso ocorre envolvendo acasalamentos com a mutação azul (ou fundo branco), onde ao se acasalar um periquito verde claro homozigoto com um azul teremos 100% das crias verdes claros port. de azul (heterozigoto), porém com a mesma aparência dos verdes-claros homozigotos, isto é, aves com genótipos diferentes mas mesmo fenótipo.

No caso de acasalamentos com co-dominância, o dominante homozigoto tem o seu fenótipo diferente do dominante heterozigoto. É o fator de escuridão encontrado nos psitacídeos, onde ao se acasalar um periquito verde-oliva (dominante homozigoto) com um verde-claro (recessivo) teremos 100% das crias verde-escuro (dominante heterozigoto). Nesta condição, todas as aves tem genótipos e fenótipos diferentes.

Na terceira ocasião tem-se os acasalamentos envolvendo os genes localizados nos cromossomos sexuais, onde em função do sexo dos pais, teremos um resultado diferente. Um grande exemplo é a mutação INO dos periquitos onde ao se acasalar um macho verde-claro com uma fêmea lutino teremos todos os filhotes de ambos os sexos verdes-claros, sendo exclusivamente os machos portadores. Agora ao se inverter as cores do casal, com macho lutino e fêmea verde-claro, todos os filhotes machos serão verdes-claros portadores e todas as fêmeas lutino.

Ainda foi falado da 2ª Lei de Mendel (diibridismo), onde se mistura no mesmo acasalamento mais de uma mutação. Os exemplos utilizados na palestra foram a união das mutação azul, fator escuro e INO. Com isso obtém várias combinações nos azuis como celeste (sem fator para escuridão), cobalto (FS para escuridão) e malva (DF para escuridão) e os albinos (INO + azul).

Existem muitos outros casos na genética das cores, envolvendo outras mutações, que poderão está ou não no cromossomo sexual e serem recessivas, co-dominantes ou dominantes e os outros casos de padrão genético como os alelos múltiplos (INO e Corpo Claro nos periquitos, por exemplo, onde ocupam o mesmo locus).

Também foi falado na palestra do uso da genética para a fixação de padrões além das cores, como tamanho, porte, posicionamento etc. Para se trabalhar com estas característica faz-se necessário a formação de linhagens onde temos alguns tipos de acasalamentos como o in-breending (alta consanguinidade), o line-breeding (baixa consanguinidade) e o out-cross (sem consanguinidade).

O público presente demonstrou interesse trazendo exemplos e questões envolvendo outras espécies e mutações, deixando evidente a necessidade em se tratar o referido assunto em função desta lacuna quando se envolve genética para muitos criadores.

Parabenizo a ACPERJ&BR pela coragem e competência em organizar um evento desta magnitude reunindo, na Fundação RIOZOO, criadores e profissionais de biologia e veterinária de vários estados do país. Parabéns a todos os envolvidos no evento que foi o maior sucesso! Um grande abraço e até a próxima!