Olá amigo criador e apaixonado
pela criação de aves! Meu nome é Rodrigo Guerra, sou biólogo responsável pelo
Núcleo de Estudos Ornitológicos (NEO) e proprietário do criadouro RGC –
Pássaros. Fui convidado pelo André Ismerim
para participar do 1º Ciclo de Palestras realizado pela ACPERJ&BR como
palestrante, sendo me dado o tema genética, o qual aceitei prontamente e fiquei
muito honrado pelo convite.
Na criação animal o uso da
genética é importante e não seria diferente na criação de aves. E na avicultura
ornamental, o uso da genética recai sobre a seleção das cores e suas
respectivas mutações. Portanto, para um melhor entendimento de como usar a
genética precisamos entender como se formam as cores das penas das aves.
As cores nas aves estão em suas
penas e partes córneas, onde a enorme variação das mesmas é decorrente de processos
bioquímicos, envolvendo pigmentos e/ou processos físicos, envolvendo a
estrutura das penas. As cores bioquímicas são resultantes de dois grupos de
pigmentos: carotenóides e melaninas.
Os carotenóides são os pigmentos
oriundos da dieta das aves. Nos Passeriformes são os lipocromos e nos
Psittaciformes são as psitacinas, por exemplo. Suas cores variam entre amarelo,
laranja, vermelho e rosa.
As melaninas são produtos do
organismo do próprio animal, que podem ser divididas em duas: eumelaninas (que
podem ser negras ou marrons) e pheomelaninas (marrons). A eumelanina pode ser
manifestar nas regiões mais centrais das penas ou na periferia das mesmas. Já
as pheomelaninas se depositam sempre na periferia das penas.
Quando as mesmas são depositadas
nas bordas, enxergaremos as cores puramente negras ou marrons, como as estrias dos
canários e as ondulações dos periquitos australianos. Agora quando estão na parte
mais interna, junto dos carotenóides, dá-se o efeito que chamamos na
canaricultura de envoltura.
Nossos olhos só enxergam as cores
dos espectros de luz que os objetos refletem, redirecionando-os às nossas
retinas. Portanto, quando as melaninas periféricas recebem os espectros de luz,
vão refletir a cor marrom e no caso do negro, absorveram todas as cores,
restando à ausência de cor, isto é, negro.
Agora quando a melanina está
depositada junto aos pigmentos carotenóides, ocorre a reflexão da cor do lipocromo
ou psitacina e a cor azul nas melaninas. Tal reflexão azul é denominada de
efeito ou azul de Tyndall (o mesmo que deixa o céu azul). Logo, uma ave verde
nada mais é do que a reflexão do pigmento amarelo junto com a cor azul da
reflexão/refração ocorrida nos grãos de depósitos de melaninas.
Portanto, caso um periquito verde
por ventura perder de suas penas todo o pigmento amarelo, ele ficaria azul (FIGURA 01). Mas
caso fosse retirado do verde toda presença da melanina negra, o mesmo
tornar-se-ia amarelo. Tais exemplos nada mais são do que a mutação azul e a
mutação INO (no caso lutino) (FICURA 02).
FIGURA 01: Periquitos Australianos Verde Claro (melanina negra mais psitacina amarela) e Azul Celeste (Somente a melanina negra). Repare que a face do primeiro é amarela e do segundo branca (sem psitacina). Fonte: http://flickrhivemind.net/Tags/budgies,cage/Recent
FIGURA 02: Periquito Australiano Lutino (ausência de melanina negra e presença da psitacina amarela). Fonte: http://www.naturepicturesource.com/gallery/250-120-Budgerigar.html
FIGURA EXTRA: Periquitos Australianos Albino (ausência de melanina negra e da psitacina amarela) e Verde Claro (melanina negra mais psitacina amarela). Fonte: http://www.araratasa.org.au/
Mas, o que é mutação? É uma
alteração súbita e hereditária na estrutura genética. Portanto, se uma cor
diferente não é repassada aos descendentes de maneira nenhuma, tal cor não é uma
mutação, podendo ser até mesmo uma alteração metabólica em função de um
problema de saúde.
Mas nem toda cor nova é uma
mutação, podendo haver recombinação de mutações, como por exemplo, o canário
isabelino (FIGURA 03) oriundo do crossing-over
envolvendo as mutações ágata e canela e no caso dos periquitos australianos
rendados, envolvendo o mesmo crossing-over
nas mutações asa canela e INO.
FIGURA 03: Canário de cor Isabelino Prateado (crossing-over entre a mutação ágata e canela).
Fonte: FOB
Agora, vamos à genética
propriamente dita, onde em nossa palestra, visando uma melhor didática, foi
escolhida a espécie periquito australiano (Melopsittacus
undulatus) para exemplificação, mas a idéia percorre qualquer espécie
criada em cativeiro.
Praticamente usamos em criação as
Leis de Mendel, onde a mesma foi exemplificada utilizando acasalamentos
virtuais entre as cores do periquito. O primeiro caso foi a 1ª Lei de Mendel
(Monohibridismo), com casos de dominância completa, co-dominância e
sexo-ligado.
Nos casos com dominância
completa, o gene dominante dominará o recessivo no processo de exteriorização
da mutação, possuindo o animal heterozigoto (dominante port. do recessivo) a
mesma aparência do dominante homozigoto (dominante duplo fator). Tal caso
ocorre envolvendo acasalamentos com a mutação azul (ou fundo branco), onde ao
se acasalar um periquito verde claro homozigoto com um azul teremos 100% das
crias verdes claros port. de azul (heterozigoto), porém com a mesma aparência
dos verdes-claros homozigotos, isto é, aves com genótipos diferentes mas mesmo
fenótipo.
No caso de acasalamentos com
co-dominância, o dominante homozigoto tem o seu fenótipo diferente do dominante
heterozigoto. É o fator de escuridão encontrado nos psitacídeos, onde ao se
acasalar um periquito verde-oliva (dominante homozigoto) com um verde-claro
(recessivo) teremos 100% das crias verde-escuro (dominante heterozigoto). Nesta
condição, todas as aves tem genótipos e fenótipos diferentes.
Na terceira ocasião tem-se os
acasalamentos envolvendo os genes localizados nos cromossomos sexuais, onde em
função do sexo dos pais, teremos um resultado diferente. Um grande exemplo é a
mutação INO dos periquitos onde ao se acasalar um macho verde-claro com uma
fêmea lutino teremos todos os filhotes de ambos os sexos verdes-claros, sendo
exclusivamente os machos portadores. Agora ao se inverter as cores do casal,
com macho lutino e fêmea verde-claro, todos os filhotes machos serão verdes-claros
portadores e todas as fêmeas lutino.
Ainda foi falado da 2ª Lei de
Mendel (diibridismo), onde se mistura no mesmo acasalamento mais de uma
mutação. Os exemplos utilizados na palestra foram a união das mutação azul,
fator escuro e INO. Com isso obtém várias combinações nos azuis como celeste
(sem fator para escuridão), cobalto (FS para escuridão) e malva (DF para
escuridão) e os albinos (INO + azul).
Existem muitos outros casos na genética
das cores, envolvendo outras mutações, que poderão está ou não no cromossomo
sexual e serem recessivas, co-dominantes ou dominantes e os outros casos de
padrão genético como os alelos múltiplos (INO e Corpo Claro nos periquitos, por
exemplo, onde ocupam o mesmo locus).
Também foi falado na palestra do uso da genética para a fixação de padrões além das cores, como tamanho, porte, posicionamento etc. Para se trabalhar com estas característica faz-se necessário a formação de linhagens onde temos alguns tipos de acasalamentos como o in-breending (alta consanguinidade), o line-breeding (baixa consanguinidade) e o out-cross (sem consanguinidade).
Também foi falado na palestra do uso da genética para a fixação de padrões além das cores, como tamanho, porte, posicionamento etc. Para se trabalhar com estas característica faz-se necessário a formação de linhagens onde temos alguns tipos de acasalamentos como o in-breending (alta consanguinidade), o line-breeding (baixa consanguinidade) e o out-cross (sem consanguinidade).
O público presente demonstrou
interesse trazendo exemplos e questões envolvendo outras espécies e mutações,
deixando evidente a necessidade em se tratar o referido assunto em função desta
lacuna quando se envolve genética para muitos criadores.
Parabenizo a ACPERJ&BR pela
coragem e competência em organizar um evento desta magnitude reunindo, na
Fundação RIOZOO, criadores e profissionais de biologia e veterinária de vários
estados do país. Parabéns a todos os envolvidos no evento que foi o maior
sucesso! Um grande abraço e até a próxima!
Tudo Sobre Calopsita http://todomundopet.blogspot.com.br/
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