Artigo de minha autoria publicado na Revista Pássaros Exóticos
As espécies
Olá amigos leitores da Revista
Pássaros Exóticos! Nesta edição continuamos juntos e dessa vez, para falarmos
de mais três espécies de Passeriformes exóticos: os Diamantes Bavetes. Sim,
está no plural pois são três as espécies de bavetes, todas originárias da
Austrália, da família Estrildidae (a mesma dos mandarins, goulds, manons, etc)
e também descobertas pelo famoso ornitólogo John Gould, aproximadamente em 1837.
São aves lindas, que vivem nas
regiões de savanas e matas abertas da Austrália, sendo criadas mundo afora por
criadores apaixonados por suas cores neutras, com desenhos melânicos bem
marcados (eumelanina negra e pheomelanina), destacando-se o babador negro que
deu origem ao seu nome (bavete é babador em francês). Estão muito próximas
filogeneticamente dos diamantes mandarins, tendo este último passado por
revisão taxonômica, tornando-se, para muitos autores, congênere dos bavetes,
deixando de ser Taeniopygia guttata
para ser Poephila guttata. Se
observarmos bem, mandarins e bavetes são aves bem parecidas (atentem aos bicos
e pés!) e de fácil hibridação.
Então, vamos iniciar falando da
primeira espécie, o bavete de cauda
curta (Poephila cincta). Esta espécie é originária da região nordeste da Austrália,
possuindo três subespécies, a saber: Poephila
cincta atropygialis, Poephila cincta nigrotecta
e Poephila cincta vinotinctus.
Apesar de ser classificado como
espécie de status pouco preocupante
pela Red List da IUCN, estudos
indicam um declínio em suas populações originais, principalmente em função da
perda de habitat por alterações humanas na natureza. Provavelmente por isto, e
ao fato de pertencer ao anexo II da CITES, ocasionou-se a saída da espécie da
classificação doméstica para a semi-doméstica (Anexo A da IN 18) perante a
legislação brasileira. Duas são as características diagnósticas desta espécie:
a cauda curta e o depósito definitivo de eumelanina negra no bico, permanecendo
as patas avermelhadas. Este bico escuro dá ao bavete de cauda curta a “cara” de
eterno filhotão.
A próxima espécie a ser
mencionada é o bavete de cauda longa
(Poephila acuticauda),
ave originária do norte australiano, com uma população selvagem em
considerável equilíbrio (status
conservacionista pouco preocupante), sendo descrita como uma ave comum para a
região. Entretanto, a espécie também configura na lista dos semi-domésticos das
INs 03 e 18 do IBAMA.
Existem duas subespécies, a Poephila acuticauda acuticauda, que possui o bico amarelo (lipocromo amarelo) e a Poephila acuticauda hecki, com o bico na cor vermelha (lipocromo vermelho). Suas duas
características diagnósticas, que distingue esta espécie da anterior, são a
ausência do depósito melânico no bico após a ave está adulta, e a cauda bem
mais longa em função de duas rectrizes compridas no meio da mesma, dando-lhe um
longo filete.
Um cuidado que todo criador
deverá ter é nunca, jamais, acasalar as duas subespécies entre si. Além de se
perder a pureza genética, gerará aves com o bico laranja (presença dos dois
lipocromos), ave totalmente desvalorizada.
E por último, temos a única espécie de bavete, sem ter propriamente um bavete (babador). Trata-se do bavete mascarado ou bavete masquê (Poephila personata). Esta espécie também habita o norte da Austrália, com sua população também aparentemente estável e com status de pouco preocupante na lista vermelha da IUCN. Mas, assim como as duas espécies anteriores, encontra-se no anexo A das instruções normativas.
Como o nome da espécie já diz, ao
invés do babador característico das espécies anteriores, esta possui uma
máscara eumelânica negra que cobre desde a base do bico até os olhos e um bico
onde é depositado lipocromo de cor amarela.
Também possui duas subespécies, a
saber: Poephila personata personata,
com a máscara larga, transpassando a linha dos olhos e a Poephila personata leucotis, com a máscara curta, sem ultrapassar a
linha dos olhos.
Alimentação
Para as três espécies, a
alimentação se constitui a mesma dos demais granívoros da família, como os
mandarins, goulds, manons etc. Complementa-se a alimentação com uma boa
farinhada e ração extrusada, ao gosto do criador.
Reprodução
Criadas em cativeiro há bastante
tempo, são aves que se reproduzem relativamente bem (o bavete mascarado é o
mais complicado na reprodução), podendo-se criá-los em colônia ou em casais
individuais, cada qual em sua gaiola criadeira, tipo argentina (a mesma
utilizada para a criação de canários), utilizando-se o famoso ninho
caixinha/cubo, de aproximadamente 15 cm de lado.
Como são aves dóceis, colônias
mistas com outras espécies de pássaros poderão ser montadas. Entretanto, mesmo
constituindo-se bandos na natureza, problemas poderão ocorrer, principalmente
na época de reprodução, pois os bavetes podem apresentar certo nível de
hostilidade entre si, não podendo-se ter um grande número de indivíduos em um
único viveiro.
Lembrando-se também que há o
risco do interesse interespecífico de um bavete com outra espécie de
estrildídeo (como outra espécie de bavete ou um mandarim, por exemplo), levando
a geração de híbridos.
O dimorfismo sexual se dá pelo
babador do macho ser ligeiramente maior e mais largo do que das fêmeas. Tal
diferença é mais marcante na espécie de cauda curta do que na longa. Já na
mascarada, o dimorfismo se dá também pela máscara da fêmea ser menor, mas a
diferença é praticamente imperceptível. Via de regra, não é fácil sexar os
bavetes pelas cores. A saída segura é a sexagem laboratorial ou a
comportamental, isto é, somente os machos cantam.
Como muitas das espécies
australianas, que aproveitam os curtos períodos de fartura alimentar que vem
após as monções, em função da constância alimentar em cativeiro, os bavetes
podem se reproduzir praticamente o ano inteiro (respeitando-se o limite de três
a quatro posturas por temporada), mas seu período reprodutivo costuma ocorrer
entre março e outubro em nosso país.
Há relatos de criadores que
conseguem criar bavetes sem repassá-los para amas, mas via de regra, utiliza-se
os já famosos manons como mães adotivas, para não perdemos filhotes e
conseguirmos um número maior de posturas por casal (neste caso, cinco
posturas).
Os bavetes põem de cinco a seis
ovos, com tempo de incubação de aproximadamente 14 dias. Os filhotes deverão
ser anilhados com sete dias (anilhas de 2,5 mm para as três espécies, sendo
permitido o uso de 2,7 mm para bavetes cauda longa padrão maior, segundo a
OBJO). Com aproximadamente 45 dias, os filhotes já poderão ser separados dos
pais (adotivos ou não) e transferidos para voadeiras, onde ganharão músculos e
aguardarão a muda de virada de pardo para a cor adulta.
Mutações
Bem, como os amigos já puderam
observar nas fotos dos exemplares selvagens das três espécies de bavetes, a cor
padrão ou selvagem é formada pela presença de eumelanina negra, pheomelanina e
depósito de lipocromo dos bicos e pés (vermelho ou amarelo, dependendo da
espécie), além do uropígio branco.
No geral, elas possuem uma carga
de eumelanina negra bem oxidada na cabeça e pescoço (formando máscaras e
babadores), um “cinto” negro envolvendo a cintura e a cauda negra. Nas espécies
de cauda curta e longa, existe uma cobertura de envoltura negra na cabeça,
dando uma cor acinzentada na mesma. Tal característica não é vista no bavete
mascarado. O corpo de todas as espécies possui uma intensa carga pheomelânica,
dando o visual marrom no corpo das aves.
Portanto, as mutações existentes
atuaram em cima dos padrões melânicos, ou transformando a eumelanina negra em
marrom, ou eliminando a existência da pheomelanina, ou diluindo a presença das
mesmas.
Segundo a Ordem Brasileira de
Juízes de Ornitologia (OBJO) em seu anuário de 2015, insere os bavetes no
segmento exóticos estrangeiros, grupo 5 dividido em 15 classes em concursos,
conforme a tabela a seguir:
Código
|
Cor
|
Genética
|
|
EX 050101
|
Cauda Curta Ancestral
(Poephila
cincta)
|
Dominante
|
|
EX 050102
|
Cauda Curta Canela
|
Sexo-ligado recessivo
|
|
EX 050103
|
Cauda Curta Isabel
|
Autossômico recessivo
|
|
EX 050104
|
Cauda Curta Acetinado
|
Sexo-ligado recessivo
|
|
EX 050105
|
Cauda Curta outras mutações e combinações
|
x
|
|
EX 050120
|
Cauda Longa Ancestral
(Poephila
acuticauda hecki)
|
Dominante
|
|
EX 050121
|
Cauda Longa Canela
|
Sexo-ligado Recessivo
|
|
EX 050122
|
Cauda Longa Isabel
|
Autossômico Recessivo
|
|
EX 050123
|
Cauda Longa Acetinado
|
Sexo-ligado Recessivo
|
|
EX 050124
|
Cauda Longa Albino
|
Sexo-ligado Recessivo
|
|
EX 050125
|
Cauda Longa Cinza
|
Autossômico Recessivo
|
|
EX 050126
|
Cauda Longa Bico Amarelo Todos
(Poephila
acuticauda acuticauda)
|
x
|
|
EX 050127
|
Cauda Longa outras mutações e combinações
|
x
|
|
EX 050140
|
Mascarado
(Poephila
personata)
|
x
|
|
EX 050141
|
Mascarado outras mutações
|
x
|
Todas as mutações apresentadas
para o bavete cauda longa de bico vermelho, poderão ser encontradas na
subespécie de bico amarelo. Entretanto, os criadores brasileiros e europeus tem
preferência em trabalhar as mutações no bico vermelho, pois esta subespécie
costuma apresentar na cor selvagem, marcações mais nítidas e fortes nas cores.
E a título de curiosidade, ao se
acasalar as mutações canela e Isabel entre si, nascerão bavete padrão normal
(selvagem), exatamente igual ao se acasalar calafates canelas e isabéis entre
si.
Considerações Finais
As espécies de bavetes são aves
muito bonitas, todas com nuances melânicas que dão às aves diversas cores que
atraem criadores em todo o mundo. São aves com passaporte carimbado nos
campeonatos brasileiros de ornitologia, tendo aves classificadas nas três
últimas edições do CBO.
Algumas
classes não foram classificadas desde 2013, como o bavete cauda curta Isabel,
cauda longa albino e o cauda longa cinza, por exemplo. No outro lado da moeda,
algumas classes estiveram sempre presente, como os caudas curtas normais e
canelas, caudas longas normais e canelas e o mascarado.
E as classes normais das três
espécies também foram as únicas que tiveram nos três anos os cinco indivíduos
classificados no brasileiro e o bavete mascarado foi a única espécie com
quartetos classificados nas três edições. Tudo isto demonstra o interesse das
formais ancestrais dos bavetes pelos criadores brasileiros.
Em 2014, 77 aves foram
apresentadas no brasileiro, sendo a espécie mascarada a campeã, com 23
pássaros, seguida da cauda longa ancestral com 17.
Bem amigos, era isto que
queríamos escrever sobre estas três magníficas espécies de pássaros exóticos,
chamadas de bavete. Desejo aos amigos que já as criam um enorme sucesso em suas
criações e àqueles que desejam criá-las, que vão em frente e iniciem seus
plantéis com aves de criadores idôneos, com aves anilhadas, conforme as IN 03 e
18.
Um abraço e até a
próxima!!!
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